São tempos difíceis para os sonhadores
Você sabe o que é ter ojeriza a alguma coisa? Desculpe a minha ignorância, mas eu tenho ojeriza a filme francês... Não sei explicar, mas todos eles parecem chatos, cansativo e cabeça demais e só de saber que é francês já me dá desânimo! Mas eu sempre ouvi falar muito bem desse filme e sempre quis assistir, até saber disso, né... Mas então pensei... “por que não dar uma chance a Amélie?” E não é que eu tive uma feliz surpresa!
O filme já me surpreendeu logo de início! Com uma narração corrida igual de desenho animado os personagens do filme vão sendo apresentados, e com direito até de dizer do que eles mais gostam e do que menos gostam. Acho que a graça disso é apresentar prazeres tão banais (como estourar bolinhas de plástico) como algo fundamental em uma primeira apresentação. Porque o filme inteiro fala do valor dos pequenos prazeres, de como pequenos atos podem mudar a nossa vida.
Amélie cultiva um gosto especial pelos pequenos prazeres: mergulhar a mão em sacas de grão, partir a cobertura do crème brûlée com a ponta da colher e jogar pedras no rio... Ela vive num universo meio retrô de cores gritantes que praticamente pulam na nossa cara! Um trabalho incrível de fotografia, por sinal!
Amélie é uma sonhadora que desde criança encara o mundo com suas próprias lentes... mas quando adulta descobre que através de pequenos gestos pode melhorar a vida das pessoas ao seu redor, então se lança nesse propósito e numa dessas ela acaba encontrando um rapaz por quem se apaixona a primeira vista... e daí surgem criativas cenas que demonstram sua hesitação em tomar uma iniciativa, como a cena fofa do parque!
Ahhh, adorei a cena em que ela está cozinhando e imagina o Nino subindo as escadas! É engraçado a dor que causa a saudade de algo que nunca se teve!
É engraçado também, ver como tomar decisões para os outros é mais fácil do que pra nós mesmos... Amélie se lança em arrumar a vidas dos outros e não sabe como arrumar a desordem da sua própria vida. Pois quando diante do seu “fabuloso destino”, que é nada mais nada menos do que tchan tchan tchan: O AMOR( ! ), ela hesita! Mas em seguida recebe esse belo conselho de seu vizinho, conhecido como homem de vidro por ter os ossos fracos:
“Então, pequena Amélie, os teus ossos não são feitos de vidro. Podes levar algumas pancadas da vida. Se deixares escapar esta oportunidade, eventualmente o teu coração vai ficar tão seco e quebradiço como o meu esqueleto. Então, vai apanhá-lo!”